Qualidade educativa em África é baixa e é preciso "investir mais"
A qualidade da educação em África é baixa e é necessário mais investimento na melhoria das capacidades dos jovens, defende num relatório hoje publicado o Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
"Amelhoria do acesso e da qualidade do desenvolvimento de competências ajudará África a aproveitar o potencial de crescimento de uma força de trabalho de jovens africanos em rápido crescimento e cada vez mais qualificada", refere no relatório "Dinâmica de Desenvolvimento de África: Competências, Emprego e Produtividade", deste ano, hoje publicado.
Muitas economias africanas estão a enfrentar um duplo desafio: os trabalhadores não possuem as competências específicas exigidas pelos empregos existentes e não existem empregos de qualidade em número suficiente para incentivar os trabalhadores a desenvolverem as suas competências, refere a organização intergovernamnetal.
"Mais de 80% dos jovens africanos que frequentam a escola aspiram trabalhar em profissões altamente qualificadas, mas apenas 8% encontram esses empregos", explicou.
A escassez de competências, nomeadamente em setores como o agroalimentar, as energias renováveis e a exploração mineira, trava o investimento privado, alertou.
De acordo com a investigação, 85% do aumento total previsto da população mundial em idade ativa até 2050 ocorrerá em África.
"A população em idade ativa (15-64 anos) quase duplicará em África até esse ano, passando de 849 milhões em 2024 para 1,56 mil milhões em 2050", indicou.
Estes ativos no mercado de trabalho serão mais instruídos do que as gerações anteriores, uma vez que o número total de jovens africanos que completam o ensino secundário ou superior mais do que duplicará, passando de 103 milhões para 240 milhões, entre 2020 e 2040, segundo o relatório.
"Esses jovens procurarão trabalho em economias dinâmicas. Prevê-se que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de África aumente de 3,2% em 2023 para 3,5% em 2024 e atinja uma taxa média de 4,0% em 2025", refere a OCDE.
"Estima-se que 82% de todos os trabalhadores em África estejam empregados em atividades informais - na sua maioria mal pagas, de baixa qualidade e com pouca proteção",lê-se no relatório, que concluiu que a qualidade e a quantidade de educação em África continuam a ser baixas em comparação com outras regiões do mundo.
Em 2021, em média, os governos africanos investiram 3,7% do seu PIB na educação, ou seja, 14,5% da sua despesa pública total, indicou.
"Estes números estão ligeiramente abaixo dos valores de referência internacionais de, pelo menos, 4% do PIB e 15% da despesa pública total. Em 16 dos 42 países africanos com dados disponíveis para 2020-23 não foram cumpridos os valores de referência internacionais", lamentou.
O desenvolvimento de competências, associado a melhores empregos, aumentará a produtividade de milhões de trabalhadores, aconselhou.
"O relatório indicou que cada ano adicional de educação pode aumentar os rendimentos dos alunos africanos em até 11,4%", frisou.
O estudo indicou ainda várias recomendações políticas para ajudar a colmatar as lacunas de educação e competências em África, tais como aumentar a qualidade do ensino através da formação de professores e um ensino mais estruturado.
Desenvolver estratégias nacionais de competências para setores emergentes "de elevado potencial, específicos de cada país africano, incluindo as novas competências exigidas pelas indústrias digitais e ecológicas" e estudar melhor o mercado de trabalho, nomeadamente promovendo colaboração com o setor privado para se avaliar melhor a oferta e a procura de competências, é recomendadao.
A empregabilidade e produtividade dos trabalhadores informais, especialmente das mulheres, também devem ser melhoradas, "através da formação e do reconhecimento das competências adquiridas".
O relatório analisou igualmente as áreas estratégicas em que as cinco regiões de África têm maior potencial para aumentar a produtividade graças a uma mão-de-obra mais qualificada: minas na África Central e Austral, digital na África Oriental, energias renováveis no Norte de África e agroalimentar na África Ocidental. (RM-NM)
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